11 agosto 2006

POR QUE SONHAR SE PODEMOS AGIR?

Eu me pergunto se todos nós sabemos a que grupo social pertencemos? Por que será que no Brasil as pessoas se acostumam com as coisas de mais, esquecendo de lutar pelo seu direito ou por aquilo que acredita? Bom, de qualquer forma, vou contar um pouco da história do grupo a que pertenço. Ele teve o seu nascedouro de forma espontânea que passou da indignação à ação, insurgindo-se contra o Pedágio da Mello Peixoto, popularmente chamado de “pedaginho”, a exemplo de tantos outros grupos formados no Brasil afora, com formação igualmente voluntária de pessoas que não perderam a capacidade de se indignar diante daquilo que vai além do que é natural ou justo.
Vale aqui nos remeter à sabedoria popular que diz que a necessidade é que fez o sapo pular. Assim, à mingua de acolhimento e proteção de parte do Poder Constituído de Jacarezinho, de quem se esperava guarida, o grupo se formou natural e singelamente, sempre recebendo a adesão de novas, de diferentes segmentos.
Por circunstâncias, as reuniões tiveram curso na APP, que é o Sindicato dos Professores, que gentilmente cedeu suas dependências.
De se ver que não só cedeu suas dependências, mas também abraçou e encampou a causa “antipedágio”, demonstrando coerência na sua atividade-fim, que é como se sabe, as questões envoltas na Educação e na Instrução.
Lembremos por oportuno que a Escola deve preparar a pessoa para a vida. Deve instruir e educar, segundo a idéia de que instruir é prepará-la para “ganhar a vida” e educar é prepará-la para “viver a vida”.
Apenas argumentativamente, se conhecimento é poder, esse poder nem sempre é bem utilizado. O conhecimento faz o homem bom, melhor e faz o homem mau, pior. Por isso, a sabedoria é sempre uma benção, mas o conhecimento às vezes é um mal. A Escola tem, portanto, que dar atenção também à ética, formando bons cidadãos, preocupação última, igualmente da APP. Na prática, são os embates da vida, como é o embate com aqueles que dão de ombros para o sacrossanto e constitucional direito de “ir e vir”das pessoas, que, se não pagarem para exercê-lo, ficam retidas ou voltam para casa.
Lembremos, também, que além da exigência do pagamento voraz à empresa particular, que ganhou do poder público a cessão da rodovia, os mesmos impostos cobrados pelo poder público, continuam existindo ainda sobre cada litro de combustível abastecido nos postos, sob o pretexto de cobrança para manutenção de rodovias.
Assim, ou se paga em dose dupla, dose cavalar, diga-se de passagem, ou o direito de ir e vir não passa de uma ficção no papel, uma quimera constitucional.
Recordemos, por apropriado, que estas cobranças alcançam não só as pessoas que valem de veículos particulares, mas a todos indistintamente, portanto a ninguém é novidade que tudo o que se consome no dia-a-dia chega até as lojas por rodovias, também a ninguém é novidade que o custo do pedágio é repassado ao consumidor, como último elo da corrente.
Portanto, é sabido que a cada ação corresponde uma reação, e a nossa não foi outra senão se insurgir, não vandalizando como indevida e injustamente insinuaram, mas dentro dos canais civilizados do diálogo com a Empresa que explora (explora sem trocadilho, diga-se passagem), diálogo infrutífero, lamentavelmente, haja vista que desdenharam de nossos reclames.
Também diálogo com a Sra Prefeita, que da mesma forma se mostrou inútil, posto que não se avançou um milímetro sequer relativamente ao primeiro contato que com ela tivemos, a não ser flácidas falácias para acalentar bovinos.
Não nos restando outra possibilidade, já que não dispomos de via alternativa; já que toda a população de Jacarezinho não dispõe de cartão de insenção, exceto uma minoria de apaniguados da Empresa, aí incluídos aqueles que compõem o poder de plantão, que em vez de “combater o bom combate”, como fez o apóstolo Paulo, até agora lavaram as mãos, como fez Pilatos, já que não se vislumbou outra maneira para equacionar esta tragédia do pedágio, não nos restou outra possibilidade senão o Ministério Público Estadual, pois ainda acredito ser verdadeira a assertiva que diz estarmos em um Estado Democrático de Direito.
Derradeiramente, e só após termos dado os nossos extremos, honestos e desinteressados esforços pela causa, é que poderemos dizer orgulhosos: Querida Jacarezinho; infelizmente combalida Jacarezinho, “Verás que alguns filhos teus não fogem à Luta”.

Ana Lúcia Pereira Baccon – Mestre em Ensino de Ciências e Educação Matemática – UEL – Presidente da APP Sindicato

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