01 outubro 2009

ALMOÇO GRATIS.

Como já era do estilo do governo Lula àquela altura do segundo mandato, o resultado do leilão de concessões de sete trechos de rodovias federais, realizado em outubro de 2007, foi bastante politizado. Decidido a jogar para baixo o preço dos pedágios, o Palácio não resistiu à tentação de mudar o critério usual dos leilões, em que se concedia maior peso ao pagamento da outorga pelos interessados, e, num lance populista, passou a decidir as disputas pela oferta de maior desconto sobre a tarifa a ser cobrada aos usuários.

O aparente sucesso da rodada de concessões foi saudado como um Ovo de Colombo. No leilão de trechos de estradas no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, Paraná e Santa Catarina os deságios oferecidos pelas empresas privadas chegaram a 65%. O pedágio inicial do trecho leiloado na Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte) foi de R$ 0,99. Eufórico, Lula - que já havia montado o palanque de Dilma Rousseff, relacionada diretamente ao aparente êxito do novo modelo de leilão - aproveitou um "Café com o presidente" para autolouvações e criticar o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, o qual teria privatizado estradas sem se preocupar com o usuário -, tanto que a Dutra (Rio-São Paulo), exemplo citado por Lula, cobrava R$ 7 por trecho.

O uso político-eleitoral do leilão - retardado em cinco anos por objeções ideológicas dentro do governo - foi tão intenso que o governador tucano de São Paulo, José Serra, preferiu incluir num edital de licitação de estradas estaduais o conceito misto de outorga e deságio nas tarifas.

Mas como, na vida real, não há almoço grátis, as concessionárias que protagonizaram aquele leilão de 2007 começam a reivindicar revisões adicionais nos pedágios - como chegou a ser previsto à época. Os baixos valores oferecidos nos leilões se tornaram bastante gravosos à medida que o governo federal começou a não cumprir prazos com os quais se comprometera, para permitir às concessionárias colocar postos de pedágio em funcionamento.

Desapropriações atrasaram, licenças para postos não foram liberadas como previsto, e, com isso, o fluxo de caixa das empresas concessionárias ficou no vermelho, pois elas foram contratualmente obrigadas a realizar investimentos nas rodovias. Desembolso de um lado, nenhuma receita de outro, e por mais tempo que o previsto: estava completa a receita do problema.

Mais uma vez, Brasília demonstra pouca afeição com a competência gerencial. Que não se vá agora culpar a privatização. A falha é de quem escolheu um modelo preocupado prioritariamente com aplauso fácil.

Fonte, Editorial: O Globo

Um comentário:

FABRICIO disse...

A Globo não tem moral para ditar regras em nosso país!! Êles praticaram grilagem em uma praça em SPaulo!! Onde está a moral ?? FARISEUS HIPÓCRITAS !!