12 abril 2011

Os gestores públicos e a buracofilia

A gestão brasileira da coisa pública, seja federal, estadual ou municipal, com raríssimas exceções, tem uma figadal preferência pelo buraco. São buracos nas vias públicas, nas estradas, como nas contas financeiras e orçamentárias do tesouro. O administrador público costuma ser um buracófilo ou também um buracômano, maníaco pelo buraco.

O gestor de nosso bendito país não vê os buracos que cava e fica, de olhos arregalados na TV, mostrando os buracos dos antecessores. Quando existem os dos que lhe antecederam, ele aumenta o tamanho dos buracos; quando não existem, o que ele prova mesmo é que tem um buraco na sua mente. E mente, desavergonhadamente.

Até os buracos que se justificam, como os buracos do Metrô, deixam os nossos políticos em maus lençóis. Em São Paulo, recentemente, o buraco subterrâneo do trem metropolitano puxou a terra sobreposta, abriu um buraco na avenida e engoliu carros e uma pedestre, senhora de idade, desprevenida e impotente para escapar.

O maior símbolo das cidades brasileiras, e disso não escapam nem as duas maiores metrópoles, São Paulo e Rio de Janeiro, é a buraqueira das vias públicas, onde se degladiam, para ver quem cava mais buracos, as companhias de água, as de eletricidade, as de telefonia, as de fornecimento de gás, as de TV a cabo e por aí vai, cada uma cavando o seu buraco e deixando com a outra a responsabilidade pela tapação ou tapeação e o buraco fica exposto, ceifando vidas em acidentes de carro.

As estradas, mesmo as imponentes autovias sob gestão de empresas concessionárias, que ganham montanhas de dinheiro cobrando pedágios extorsivos, não perdem o hábito do buraco e estão ali sempre lembrando que por trás da concessão está o poder público e sua buracofilia.

Os dirigentes acham tudo isso pouco e, repetindo à exaustão as vãs promessas de que acabarão com a buraqueira, abrem um buraco no bolso do contribuinte, usam os recursos arrecadados para fechar buracos em suas contas bancárias, normalmente no exterior, enquanto os buracos do país só crescem e, em relação às contas e ao PIB, tornam-se verdadeiras crateras.

Ainda bem que o Brasil não tem terremotos, tornados, tufões, tsunamis e vulcões. Se tivera, meus amigos, faltariam exatamente os buracos imprescindíveis. Ou sejam, os abrigos para proteção das vítimas das tragédias. Qualquer chuviscada mais intensa, a água empoça nos buracos das vias, os motoristas não podem vê-los, sofrendo acidentes muitas vezes fatais. Aí vai gente para o triste buraco da cova mortuária.

Os buracófilos? Estes riem, banqueteiam-se, se lixam para os cidadãos contribuintes, e levantam os copos de espumantes, fazendo um brinde aos seus financiadores: os buracos.

Aliás, isso nos lembra Mateus, capítulo XV, 14, que vendo o Brasil do século XXI, no que diz respeito aos gestores públicos e também à nossa apática e um pouco cega cidadania, premonitoriamente, sentencia: “São todos guias de cego. E quando cegos guiam cegos acabam caindo todos no buraco.”

Aqui, o buraco não é mais embaixo. Está à nossa frente, sem sinalização, esperando que caiamos nele.



José Virgolino de Alencar

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